Muito tem se falado em tigueras nas Associações estaduais, principalmente ligadas à cultura do algodão e soja. Nessa matéria pretendemos esclarecer melhor esse tópico a todos os interessados.

Nessa matéria, vamos falar de plantas tigueras e, para nosso exemplo, vamos diferenciar das plantas daninhas em virtude de serem modificadas geneticamente, como soja, milho e algodão dentro de outras culturas. Plantas daninhas vamos considerar como sendo plantas indesejáveis, não modificadas geneticamente e não advinda de uma cultura comercial como Amargoso, picão-preto, caruru, corda de viola, entre tantas outras.

Portanto, as tigueras são todas as plantas indesejáveis presentes em qualquer cultivo e diferem das plantas daninhas em virtude do seu controle, pois plantas tigueras (para nosso conceito) normalmente são geneticamente modificadas ao passo que plantas daninhas não o são.

Exemplo de planta tiguera: planta de algodão dentro de um cultivo de soja, de milho ou de qualquer outra cultura; planta de soja dentro do cultivo de algodão ou milho; planta de milho dentro de cultivo de algodão e vice-versa.

Foto 01: Tiguera de algodão e erva daninha (vassourinha de botão) em cultivo de Milho

Exemplo de planta daninha: qualquer erva daninha, não modificada geneticamente, dentro de qualquer cultura comercial.

Outras definições sobre tiguera

Plantas de uma cultura anterior que persistem na nova lavoura são conhecidas como plantas tigueras, guaxas ou voluntárias.  Fonte: Blog Aegro 

Foto 02: Tiguera de soja em cultivo de Milheto

 

As plantas tigueras são aquelas que persistem no campo competindo com a cultura sucessora e estão mais resistentes devido à modificação genética. Fonte: Nordeste Rural 

Foto 03: Tiguera de soja em cultivo de Milho

Portanto, as plantas tigueras causam vários problemas. No caso específico da planta tiguera de algodão dentro das culturas de soja ou milho (mais comuns no Piauí), o grande problema é a proliferação da praga do bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis), além é claro da proliferação da mancha de ramularia, nesse caso menos preocupante, mas não menos importante.

Tiguera de algodão dentro de plantio comercial de algodão

Foto 04: Tiguera de algodão em cultivo de Algodão

Outra denominação para planta tiguera seria o caso de uma planta de algodão entre as entrelinhas de cultivo do próprio algodão. Como dificilmente essas plantas serão colhidas, em virtude do sistema de colheita das máquinas, podem ser consideradas também tigueras, pois, além de estar usando água e nutrientes do solo, podem estar proliferando pragas e doenças, pois normalmente essas plantas tigueras estarão em um estádio mais avançado que a cultura e, nesse caso, podem emitir botões florais primeiro, sendo chamativo para o bicudo, além de apresentar a doença de ramularia, infestando a lavoura. Se houver plantas de algodão (tigueras) dentro da própria cultura do algodão e, se tiverem a mesma tecnologia para uso de herbicidas, somente será controlada com arranquio manual ou uso de aplicações direcionadas (jato dirigido), assim como as ervas daninhas eram controladas antigamente ou ainda o são em algumas regiões do Brasil (no Cerrado do Piauí, não são usados cultivares comerciais, sem tolerância a herbicidas).

Surgimento das plantas tigueras

 

As plantas tigueras, para o nosso exemplo, ficaram mais em evidência com o surgimento de plantas transgênicas após os anos 1990. Inicialmente tivemos as plantas de soja, milho e algodão com tolerância ao herbicida glifosato (chamados de RR – Roundup Read) tornando mais difícil o manejo após o cultivo de uma dessas culturas. Por exemplo, plantio de soja em sucessão ao plantio de milho RR. Portanto, caso não haja um manejo eficiente antes do plantio da soja, essa cultura ficará com bastante plantas de milho (tigueras) e devem ser eliminadas com aplicação de herbicidas folha-estreita. As plantas tigueras de milho dentro do cultivo da soja, traz vários inconvenientes, primeiramente podem diminuir a produtividade, dependendo da quantidade de tigueras e, além  disso, podem proliferar pragas, sendo a mais comum, nesse exemplo, a lagarta do cartucho (Spodoptera frugiperda). As plantas tigueras germinam de grãos caídos ao solo durante a colheita e os problemas mais comuns são plantas de milho e algodão dentro de outras culturas. Não é comum problemas com tigueras de soja dentro de culturas de milho ou algodão no Estado, talvez devido o porte menor dessa cultura e ser, relativamente, mais sensível a herbicidas. No entanto, com o surgimento de sementes de soja tolerantes a outros herbicidas como a 2,4D e glufosinato, além do glifosato, poderá aumentar os problemas com tais tigueras, principalmente em lavouras safrinhas em cultivo sucessivo à oleaginosa.

Manejo do bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis)

Foto 05: Tiguera de algodão em cultivo de Soja
Foto 06: Tiguera de algodão em cultivo de Milho

Pensando em manejo do bicudo-do-algodoeiro, um dos grandes problemas vistos são plantas de algodão (tigueras) dentro das culturas da soja e milho. Pois essas plantas de algodão, quando não controladas, acabam por fazer a proliferação de pragas e doenças, em especial o bicudo. E, a dificuldade de controle de plantas de algodão dentro das culturas de soja ou milho vem principalmente do fato de serem todas culturas RR. Nesse caso, seria necessário manejo adequado com uso de pré-emergentes e outros herbicidas que não seja o Glifosato, a exemplo os produtos Radiant, Flex, Liberty (glufosinato de amônio) e outros.

Plantas soqueiras de algodão

Plantas “Tigueras” consideramos as plantas nascidas das sementes que caem ao solo e as “plantas soqueiras de algodão”, aquelas plantas que brotam após a colheita da cultura. Posteriormente, já com a cultura seguinte instalada (soja ou milho), normalmente não se difere planta tiguera de planta soqueira, talvez somente na resistência maior, da soqueira, pois suas raízes estarão mais profundas.

Foto 07: Soqueira de algodão em cultivo de Soja

O manejo, no Piauí, para plantas soqueiras de algodão RR, tem sido feito, em grande parte, com uso do herbicida a base de 2,4D, no entanto, a destruição de soqueiras ocorre no momento de entre-safra, ao qual a umidade do solo está muito baixa ou mesmo sem umidade, além das altas temperaturas, diminuindo a eficiência do produto aplicado. O manejo das soqueiras de algodão, dura praticamente toda a entre-safra, pois normalmente é necessário realizar duas aplicações com herbicida e, antes do plantio da cultura seguinte, é necessário fazer controle de tigueras que nascem após o início das chuvas, sendo necessário também realizar aplicações em pré-emergência para melhor controle das tigueras e soqueiras que não tenha sido controlada anteriormente.

Alguns produtores fazem o manejo de plantas soqueiras de algodão com uso de arrancador de disco, grade ou correntão, no entanto, em qualquer dessas opções, será necessário usar herbicida a base de 2,4D e controle de tigueras em posteriormente.

Para manejo de soqueiras de algodão que não seja RR, seu manejo tende a ser mais fácil com o uso de glifosato ou outros produtos eficientes.

Foto 08: Tiguera de algodão em cultivo de Soja
Foto 09: Tiguera de algodão em cultivo de Milho
Foto 10: Ervas daninhas – capim carrapicho e vassourinha de botão em cultivo de soja
Foto 11: Erva daninha – corda de viola em cultivo de soja

Plantas tolerante a outros herbicidas

Há plantas tolerantes a outros herbicidas que não seja o glifosato, como por exemplo, o herbicida Liberty (glufosinato de amônio). Quando é realizado um bom planejamento utilizando as tecnologias para uso de herbicidas, os produtores poderiam realizar o plantio de Soja Liberty em sucessão ao algodão com tolerância apenas ao glifosato, nesse caso específico, o uso de Liberty faria o controle das plantas tigueras de algodão dentro da soja. O mesmo exemplo vale para o milho.

No entanto, a escolha das cultivares para plantio de algodão, milho e soja leva em consideração não somente em relação à tolerância de herbicidas, mas principalmente em detrimento do potencial de produtividade da cultivar, qualidade de fibra e rendimento (no caso do algodão) entre outros critérios.

Já estão aprovados outras tecnologias de cultivares tolerantes a outros herbicidas e podem haver, inicialmente facilidades, mas também será necessário haver, por conta dos produtores e técnicos, implementação de um bom manejo e controle para que novas tecnologias não tornem ainda mais complexo o controle de pragas e doenças.

Fonte: Por Eng. Agrônomo Edson Nere Alves de Sousa – APIPA

 

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