Em continuidade à Nota Técnica 01/2022, divulgada no Informativo Técnico 22, a equipe técnica da Apipa e consultores parceiros, destacam a importância dos Cotonicultores seguir um manejo mais preventivo da Helicoverpa spp. na próxima safra, inclusive adotando o refúgio estruturado como medida importante para durabilidade da eficiência das tecnologias. O manejo preventivo se baseia no monitoramento dos adultos (mariposas) através do uso de feromônios a fim de identificar o início da chegada da praga assim como o nível de pressão e, com isso, ser possível manejar o adulto com aplicações especificas. Essa medida contribui para redução da oviposição e, consequentemente reduz o risco de escape de lagartas neonatas potencialmente resistentes a proteína Bt. A realização de um monitoramento bem feito pode resultar em tomadas de decisão mais corretas, evitando a presença de lagartas em níveis que o controle químico e/ou biológico não mais a controlaria.

Refúgio

As tecnologias Bt surgiram como uma grande tecnologia para facilitar o manejo de pragas em sistemas produtivos que envolvem, principalmente, milho/soja/algodão. Contudo, como já era esperado a maior pressão de seleção dos eventos sobre as pragas alvo poderia levar a evolução de resistência. Souza et al. (2018) observaram a transmissão de proteína Cry1F em ovos de S. frugiperda, isto implica diretamente em um incremento significativo no número de indivíduos potencialmente resistentes que irão reinfestar os plantios, e no caso do algodão, ainda na mesma safra. Ainda de acordo com os autores, a exposição da principal praga do milho a uma das proteínas Bt já começa no embrião, o que pode contribuir para a pressão de seleção da resistência e que, em quatro gerações de seleção em laboratório, é possível selecionar lagartas resistentes a essa mesma proteína. O que fazer?

O refúgio é uma estratégia recomendada para o manejo sustentável da tecnologia Bt, porém seu uso nem sempre está de acordo com o preconizado. De acordo com Miranda et al. (2017), o refúgio estruturado deve ser desenhado de acordo com a área cultivada e com a logística e topografia de cada propriedade. Para talhões com dimensões acima de 800 metros cultivadas com plantas Bt, serão necessárias faixas de refúgio internas nos respectivos talhões. A recomendação é de 10% para milho e 20% para algodão e soja. O uso de refúgio deve ser criterioso porque poderá causar efeito contrário. De acordo com Malaquias et al. (2019) lagartas resistentes à proteína Cry1F evitou plantas de algodão não-Bt enquanto lagartas suscetíveis evitou plantas Bt. Observaram, através de simulações, evidências que a evolução da resistência ocorra 75 vezes mais rápida em áreas de refúgio contaminadas com plantas de algodão Bt, quando comparada com a área de refúgio livre de contaminação.

Referências:
MALAQUIAS, J.B. et al. Experimental and theoretical landscape influences on Spodoptera frugiperda movement and resistance evolution in contaminated refuge areas of Bt cotton. Journal of Pest Science, v. 93, p. 329–340, 12 ago. 2019.
SOUZA C.S.F., SILVEIRA L.C.P., PAULA D.P., ANDOW D.A., MENDES, S.M. (2018). Transfer of Cry1F from Bt maize to eggs of resistant Spodoptera frugiperda. PLoS ONE 13(9): e0203791. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0203791.
MIRANDA, J.E.; MARTINS, S.M.; HIROSE, E. REFUGIO como estratégia de manejo da resistência. Revista A Granja, p. 40-42, Nov.2017.

Fonte: Informativo Técnico Apipa n° 23 – Maio 2022

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