Durante uma semana, entre os dias 19 e 24 de agosto, vinte industriais da China, Bangladesh, Vietnã, Peru, Turquia, Paquistão, Índia e Coreia do Sul – países que, somados, representam 80% das exportações brasileiras de algodão –embarcaram em uma expedição para conhecer algumas das principais etapas da produção nacional da fibra, na Missão Compradores 2019. Foi a quinta edição da iniciativa que a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) empreende, desde 2015, para abrir e manter mercados, principalmente, no continente asiático.
O grupo passou pelos três maiores polos cotonicultores do Brasil, em ordem decrescente de volume, Mato Grosso, Bahia e Goiás, onde visitaram lavouras, usinas de beneficiamento, fiações e laboratórios de classificação, assim como o Centro Brasileiro de Referência em Análise de Algodão (CBRA), que fica e Brasília. Os visitantes travaram conhecimento com um dos modelos mais modernos, sustentáveis e tecnificados de cotonicultura do mundo. A Missão Compradores tem apoio das associações estaduais do Mato Grosso (Ampa), Bahia (Abapa) e Goiás (Agopa).
No dia 22 de agosto, como parte da agenda da Missão Comparadores em Brasília, a Abrapa promoveu um jantar para representantes do Governo Brasileiro, tradings,cotonicultores e empresas do setor. Na ocasião, a entidade entregou à ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, e aos representantes do Ministério das Relações Exteriores, Alexandre Ghislene, e da Apex Brasil, Alberto Bicca, o projeto de promoção do algodão brasileiro no exterior. A estratégia inclui a instalação e um escritório permanente da Abrapa em Singapura e conta com o apoio do Governo Federal e dos exportadores de algodão. A iniciativa visa a fortalecer a presença naquele continente, hoje destino de mais de 90% da pluma nacional.
Experiência in loco
O conceito simples do “ver para crer” é a base da estratégia da Abrapa para incrementar o rol de compradores entre as indústrias internacionais. Para isso, a associação conta com o apoio das tradings que intermediam os negócios com a pluma. Nesta edição, Cofco, Cargill, Ecom, Reinhart e Dreyfus foram os parceiros que ajudaram a associação dos produtores na identificação de potenciais compradores e na condução da agenda antes e durante a temporada do grupo no Brasil.
Na opinião de visitantes e traders, trazer os estrangeiros é mais eficaz que qualquer propaganda. “Estamos impressionados com tudo o que testemunhamos até aqui. As reuniões foram marcadas por um evidente senso de abertura. As pessoas falaram com clareza sobre o que precisam e o que querem, e todos os interlocutores mostraram os seus objetivos. Para mim, em particular, o que mais me impressionou foi o esforço em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias. Foi uma semana incrível”, disse o representante da empresa turca Bossa, Alper Deniz.
História recente
Ao longo de sua história no Brasil, a cotonicultura teve modelos diversos de produção e migrou por quase todo o território nacional até chegar ao cerrado, na década de 90, quando a atividade se desenvolveu sob novos paradigmas, elevando o país da condição de importador de algodão para a de segundo maior exportador mundial. “A história recente de sucesso da cotonicultura brasileira ainda não foi suficiente para apagar completamente a imagem de uma produção antiquada e de baixa qualidade, por isso é tão importante trazer essas pessoas para conhecer a nossa realidade, os programas da Abrapa, como o Algodão Brasileiro Responsável (ABR) e o Standard Brasil HVI (SBRHVI), respectivamente, de sustentabilidade e qualidade de classificação, bem como o nosso programa de rastreamento, o Sistema Abrapa de Identificação (SAI)”, explica o presidente da entidade Milton Garbugio.
“Muitos de nós que estamos aqui há uma semana só conhecíamos a produção do algodão através de números e informações estatísticas. Tivemos a oportunidade de conhecer a terra e de ter contato com os produtores e beneficiadores. Com certeza, muitos negócios podem acontecer de agora em diante, pois sabemos que podemos contar com produtores amigos e, principalmente, confiáveis.”, afirmou Jose Omar Samander, da Creditex, do Peru.
Para o trader Dawid Wajs, da Louis Dreyfus Company, as missões de compradores e também a de vendedores – que leva os produtores do Brasil para estreitar laços com o mercado, sobretudo asiático – são muito importantes para o país formar multiplicadores no mundo. “Os visitantes comprovaram in loco a qualidade da fibra e a capacidade dos produtores de garantir volume e constância na oferta. Sentem-se mais confortáveis para começar os testes com nosso algodão, uma vez que a primeira experiência vai requerer do comprador alguns ajustes na fábrica. Se ele conhecer antes o produto, ao voltar para o seu país, ele vai se sentir muito mais seguro para testar. Outros visitantes que já usam algodão brasileiro passam a comprar mais”, argumenta Wajs.
Ver para crer
Tanto quanto abrir e manter mercados, o desafio da Abrapa é ganhar a confiança dos compradores internacionais. Por isso, o incremento da credibilidade da fibra, que repercute em valorização e aumento de negócios, é a aposta da associação. A estratégia é compartilhada pelas tradings participantes, como a Reinhart. “Essas iniciativas têm grande efetividade, porque as pessoas precisam ver para acreditar”, diz o vice-presidente da companhia para o Sudeste Asiático, Danny Van Namen. Em sua opinião, “o próximo passo é o Brasil não apenas promover algodão, mas desenvolver sua marca própria”, sugere. Ele observou que a boa safra de 2018/2019 teve impactos positivos no ânimo dos agentes de cada uma das etapas visitadas. “Esta safra está indo muito bem. Vi a felicidade no rosto das pessoas, nas usinas de beneficiamento. Estou muito esperançoso de que eles vão exportar bastante e não teremos reclamações por causa do clima”, prevê.
“Foi muito bom. É um período muito curto, mas pudemos ter uma ideia de tudo o que se faz aqui no Brasil. Na hora que eles veem com os próprios olhos o que se faz aqui, mudam totalmente a percepção sobre o algodão brasileiro. Muitos ainda têm uma ideia muito ultrapassada, sobre falhas de uniformidade de fibras e outros aspectos ruins que são coisas que ficaram para trás”, diz o trader representante da Ecom, Gregoire Negre. Segundo ele, todo o trabalho que foi feito pelos produtores, para chegar ao nível que chegaram, ainda não foi totalmente difundido como informação entre os compradores mundiais. “A melhor e mais rápida maneira de difundir essa nova realidade é trazer o comprador para ver de perto a cadeia produtiva na origem. Cada pessoa que está aqui vai voltar para seus países e conversar sobre o que viu. Isso tem grande potencial para aumentar vendas”, concluiu.
“A Abrapa está fazendo o dever de casa dentro e fora da porteira. O Brasil conseguiu destaque mundial em termos de qualidade e eficiência na produção de pluma, mas isso não é o bastante para o grande player que hoje ele é. Precisamos vender bem e o nosso maior comprador é a Ásia, que tem uma distância geográfica muito grande em relação a nós, e muitas lacunas em termos de conhecimento sobre o que fazemos aqui, tanto que quando eles veem de perto, se surpreendem com a tecnologia empregada nas fazendas e o profissionalismo das entidades. Tem muita efetividade essa ação, ela complementa o trabalho que a Abrapa já faz ao visitar os países compradores”, diz Marcelo Duarte, diretor de Relações Internacionais da Abrapa.