“No Piauí, os cotonicultores têm realizado enorme esforço para manter suas propriedades livres de soqueiras e tigueras, com vistas a realizarem o vazio sanitário, condição na qual há menor possibilidade da praga se alimentar e se multiplicar, diminuindo assim a permanência da mesma ou a menor quantidade para safras futuras…”

Algodão: Destruição dos restos culturais e eliminação de tigueras

Algodão: Destruição dos restos culturais e eliminação de tigueras

Adestruição dos restos culturais, comumente chamado de soqueiras do algodoeiro, tem-se destacado como uma das atividades mais complexas, visto que é realizada num período que há pouca, ou nenhuma, umidade no solo, dificultando a brotação e a criação de massa foliar, condição necessária para que as aplicações de herbicidas sejam eficientes.

Plantas de algodão nascidas de sementes caídas ao solo, durante o transporte de caroço de algodão ou transporte de fardões e rolinhos, são chamadas tecnicamente de “plantas tigueras” ou “voluntárias”, além de outros termos.

Os manejos inadequados na destruição de soqueiras e tigueras favorecem a permanência e a proliferação do bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis).

Dentro das atividades do Projeto Fitossanitário da APIPA, a eliminação de tigueras em beira de estradas e rodovias é uma das atividades executadas, além do acompanhamento e/ou monitoramento da destruição de soqueiras junto às propriedades cotonicultoras, que tem como fim a prevenção de pragas e doenças com foco no Bicudo-do-Algodoeiro.

Surgimento do Bicudo no Brasil

Em fevereiro de 1983, a presença do bicudo foi constatada em áreas de cultivo de algodoeiro próximas a Campinas-SP, sendo comunicada oficialmente pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, de Piracicaba (Nakano, 1983; Degrande, 1991; Busoli & Michelotto, 2005). A origem  da introdução desses insetos no Brasil é incerta, com referências na literatura às áreas de produção do sudeste dos Estados Unidos, nordeste do México, Haiti, República Dominicana, Venezuela ou Colômbia (Santos, 1999; Degrande, 1991; Bastos et al., 2005), porém sendo mais aceita a hipótese de que a proveniência destes insetos tenha sido, de fato, o sudeste dos Estados Unidos, e sua introdução tenha sido feita por avião, uma vez que os primeiros focos detectados situavam-se nas proximidades do Aeroporto Viracopos, em Campinas (Nakano, 1983). Confalonieri et al. (2000), após avaliarem o DNA mitocondrial de indivíduos de bicudo, confirmaram serem as populações do inseto estabelecidas no Brasil oriundas dos Estados Unidos.

Por que controlar Bicudo-do-algodoeiro?

O bicudo é um besouro da família dos curculionídeos, de coloração cinzenta ou castanha e mandíbulas afiadas, utilizadas para perfurar o botão floral e a maçã dos algodoeiros.

O Bicudo é a principal praga do algodoeiro em virtude da complexidade do seu controle e foi a praga responsável, em conjunto com os incentivos federais à importação de algodão, entre outros fatores, pela quase dizimação da cultura do algodão em meados da década de 80 e 90.

Larva do bicudo-do-algodoeiro, encontrado na BR-135, nas proximidades do município de Bom Jesus (PI). Fonte: Apipa (safra 2019/2020)

Os custos para controle e/ou manejo do bicudo-do-algodoeiro tem-se referências entre 10 a 30% do custo total da lavoura de algodão. O custo total da lavoura de algodão atualmente ultrapassa os U$$ 2.000,00 dólares.

Medidas de prevenção e controle – destruição dos restos culturais

As principais medidas de prevenção e controle do Bicudo se iniciam a partir da destruição dos restos culturais (soqueiras) através de métodos¹ químicos ou físicos ou a associação dos dois para que se consiga realizar um bom vazio sanitário, estabelecido pelos produtores de algodão e órgãos competentes, no caso do Piauí, pré-estabelecido para a data de 20/09 a 20/11. Soma-se às medidas de prevenção, os armadilhamentos realizados para monitoramento da praga nas propriedades agrícolas durante nove semanas que antecedem o plantio, manejo de plantas voluntárias de algodão na cultura de sucessão² com uso de herbicidas de pré e pós emergência e aplicações de inseticidas em bordaduras após a fase V2 (segunda folha verdadeira), aplicações em área total (bateria) de acordo o BAS (Bicudo por Armadilha por Semana) encontrado e o monitoramento da equipe técnica da fazenda, além da instalação de tubos mata-bicudo ou armadilhas após a colheita do algodão a fim  de eliminar parte dos insetos e monitorar os locais de saída da praga para o cerrado. Outros manejos preventivos se somam às estratégias de manejo como a eliminação de tigueras na beira do cerrado e estradas vicinais.

¹ métodos para destruição dos restos culturais (soqueiras):

Equipamento Destruidor de soqueiras. Fonte: Apipa (safra 2017/2018)

– opção 1: uso de triton ou roçadeira + aplicações de herbicida sistêmico em sequência imediata ou espera-se que haja brotação das soqueiras para em seguida realizar as aplicações de herbicidas (em algumas situações, somente após as primeiras chuvas);

– opção 2: uso de triton + subsolador/escarificar + grade e avalia-se surgimento de brotação;

– opção 3: correntão “pique e repique” (duas passadas no mesmo lugar em sentidos opostos) + herbicida sistêmico em sequência imediata ou espera-se que haja brotação das soqueiras para em seguida realizar as aplicações de herbicidas;

– opção 4: triton + arrancador de discos (arrancador de soqueira) + grade intermediária e avalia-se a brotação para posteriormente uso ou não de herbicidas (em algumas situações somente após as primeiras chuvas).

Em ambas as opções, normalmente deve-se realizar mais de uma aplicação de herbicida para eliminação eficiente das soqueiras, somado a isso, evitar que, durante a espera para maior brotação das soqueiras, haja surgimento de estruturas reprodutivas.

Também, em ambas as situações, deve-se usar, após as primeiras chuvas, aplicações de herbicidas para eliminação das tigueras que germinarem e soqueiras que sobrarem (aproveita-se o momento para uso de outros herbicidas para dessecação, visando o plantio), após plantio da cultura de sucessão usar herbicida de pré-emergência e, no surgimento de tigueras na cultura já instalada será necessário usar herbicida em pós emergência da cultura para eliminação dessas tigueras.

² As culturas de sucessão mais comum no Piauí tem sido a soja e o milho:

– Soja: o ideal é o uso de cultivares agressivas e com bom engalhamento para possibilitar uma boa cobertura do dossel “fechar rua” mais rápido;

– Milho: a principal recomendação, além da realização de uma boa plantabilidade é plantio em consórcio com braquiária.

Eliminação de tigueras em rodovias e estradas

Atividade de eliminação de tigueras na BR-135. Fonte: Apipa (safra 2019/2020)

Em virtude da necessidade de prevenção contra essa praga tão danosa (Bicudo), a Apipa tem avaliado a necessidade de eliminação de plantas tigueras de algodão nas Estradas e Rodovias: BR-135, PI-397 (Rodovia Transcerrados), Rodovia Quilombo, PI-247, PI-391, BR-235 e PI-392, mesmo que alguns trechos estejam a uma distância até considerável das áreas comerciais de algodão.

Os locais e trechos mais problemáticos tem sido principalmente nas Rodovias BR-135, Rodovia Quilombo, PI-247 e PI-397. Nessas três últimas rodovias as atividades têm sido realizados mais frequentemente, pois ficam mais próximas das propriedades com cultivo de algodão comercial.

Em ambas as Rodovias, as tigueras nascem de sementes que caem durante o transporte de caroço de algodão ou ainda o transporte de fardões e/ou rolinhos de algodão em caroço como citado acima. Na BR-135, as tigueras nascem também de sementes que caem durante o transporte de caroço de algodão, principalmente vindos da Bahia, sendo maior o problema, pois é uma região com maior pressão de bicudo.

Os locais, na BR-135, com maior presença de tigueras tem sido entre os municípios de Eliseu Martins e Bom Jesus, trecho ao qual foi realizado obra de alargamento da pista. Devido a obra, a terra é removida, favorecendo que as sementes de algodão germinem. Possivelmente, antes da obra, havia sementes de algodão, no entanto, as sementes não germinavam porque havia muito capim, situação que esperamos que aconteça após a obra. No mês de maio iniciaram atividade de alargamento no trecho saindo de Bom Jesus sentido Monte Alegre/Gilbués e, provavelmente, no próximo ano, deverá ter plantas de algodão naquela região.

Em 2019 foram realizados atividades de eliminação de tigueras nos trechos entre Colônia do Gurguéia e Cristino Castro (BR-135) e no final de maio de 2020 realizamos eliminação de tigueras nos trechos entre os municípios de Cristino Castro e Bom Jesus. Nessa última atividade tivemos a constatação do bicudo (identificado somente a larva) nas proximidades do município de Bom Jesus.

Atividades realizadas nas fazendas

No Piauí, os Cotonicultores tem realizado enorme esforço para manter suas propriedades livres de soqueiras e tigueras, com vistas a realizarem o vazio sanitário, condição ao qual há menos possibilidade da praga se alimentar e se multiplicar, diminuindo assim a permanência da mesma ou a menor quantidade para safras futuras. Os produtores realizam as atividades dentro das fazendas e a Apipa faz a eliminação das tigueras fora das limitações das mesmas, ou seja, é um trabalho conjunto na intenção de manter o bicudo-do-algodoeiro em controle.

Os esforços dos Cotonicultores para eliminação dos restos culturais (soqueiras), entre outros, vem da dificuldade da realização das atividades em períodos de baixa ou nenhuma umidade no solo, dificultando a brotação para criar área foliar suficiente ao ponto que as aplicações com herbicidas sistêmicos funcionem com maior eficiência.

A destruição dos restos culturais e tigueras visando a realização do vazio sanitário é importante devido o bicudo só conseguir se reproduzir em plantas de algodão (família Malvaceae). Há discursões a cerca desse assunto, ao qual evidencia-se que o bicudo poderá estar se multiplicando em outras plantas no cerrado, no entanto, até o momento tem se notícia que a praga consegue apenas se alimentar de outras plantas, mas não consegue se reproduzir.

Fonte: Equipe Fitossanitária (APIPA)

 

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